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Com reestruturação de plantas, JBS USA ganha força na área de suínos

“O dinheiro é a carne. Bem-vindos ao departamento de abate”. A mensagem, exposta em uma placa na entrada da sala em que se faz a primeira etapa do processamento de suínos, dá o tom das ambições da JBS para o seu frigorífico em Ottumwa, no cinturão agrícola do Estado de Iowa. Adquirida em 2015 da Cargill, a unidade teve a gestão reestruturada, produzindo mais bacon com menos pessoal, num processo que ainda tem reflexos, nem sempre positivos, para os cerca de 2 mil funcionários – muitos imigrantes – do frigorífico da JBS.

O Valor visitou Ottumwa na última quarta-feira e acompanhou quase todas as fases de produção – com exceção do abate e sangria dos animais, que não foram mostrados. A reestruturação do abatedouro, que tinha o pior desempenho entre os 24 frigoríficos de suínos dos EUA e agora já está entre os dez melhores em rentabilidade, está praticamente concluída.

“Havia uma diferença significativa entre as plantas que já tínhamos e as da Cargill. Hoje, o desempenho foi igualado”, disse Martin Dooley, o executivo que comanda os negócios de suínos da JBS nos Estados Unidos – uma operação cujas vendas superam os US$ 6 bilhões por ano (R$ 24 bilhões). Nos dois frigoríficos que a JBS comprou da Cargill, em Ottumwa e Beardstown (Illinois), o custo de produção por cabeça de suíno abatido diminuiu em quase US$ 10 e o rendimento de carne suína aumentou em US$ 2 por cabeça.

As economias proporcionadas pela reestruturação serão fundamentais para a JBS navegar no mar revolto que se tornou a suinocultura dos Estados Unidos, maior exportador global. As retaliações comerciais de México e China contra a carne suína americana, em resposta a medidas protecionistas do governo Donald Trump, atingiram em cheio os suinocultores de Iowa, um Estado que, ironicamente, contribuiu para a vitória do republicano nas eleições presidenciais.

Na esteira das sobretaxas, o preço do suíno vivo nos EUA recuou mais de 10% em 2018, saindo de quase US$ 0,70 por libra-peso em janeiro para menos de US$ 0,55 a libra-peso em agosto, conforme os contratos futuros com vencimento em outubro na bolsa de Chicago. “No momento, há uma sobreoferta por causa das tarifas”, reconheceu Dooley, em entrevista a jornalistas.

Nesse cenário, os próprios resultados da JBS já começaram a refletir o desbalanceamento entre oferta e demanda. No segundo trimestre, a margem de lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) do negócio de carne suína nos EUA ficou em 7%, abaixo dos 11,7% auferido no mesmo período de 2017.

Em teleconferência com analistas, o presidente da JBS USA, André Nogueira, afirmou na semana passada que ainda não é possível estimar o impacto das tarifas sobre a rentabilidade, mesmo porque não é só a guerra comercial que afeta o negócio, mas também os investimentos feitos nos últimos anos nos EUA para aumentar a produção de carne suína.

A sobreoferta de carne suína não é o único desafio da JBS nos EUA. Com aproximadamente 20% de participação no mercado de carne suína do país e abates diários de cerca de 90 mil animais em cinco frigoríficos, a JBS lida com a escassez de mão de obra.

Em Ottumwa, por exemplo, a reportagem acompanhou uma pesquisa de satisfação de um grupo de empregados da JBS. Uma das críticas, feita por uma funcionária mexicana, dizia respeito à ausência de substitutos no trabalho em caso de faltas, problema que ficou mais intenso diante da situação de pleno emprego nos EUA e em razão do número mais restrito de empregados após a reestruturação feita com a aquisição das unidades da Cargill.

Gerente-geral do frigorífico e um dos responsáveis pelas mudanças na gestão da unidade de Ottumwa, Troy Mulgrew reconheceu que a retenção de mão de obra é um problema que a JBS vem tentando atacar com medidas como o lançamento de uma clínica de saúde de baixo custo e a estruturação de uma parceria com um banco, com oferta de crédito aos funcionários – nos EUA, os imigrantes têm dificuldades para ter acesso.

O diálogo com os empregados também faz parte dos esforços de retenção, ainda que isso renda situações desconfortáveis para o gestor. Durante a pesquisa com o grupo de empregados que o Valor presenciou, uma trabalhadora mexicana atribuiu nota zero para a enfermaria do frigorífico. A nota baixa foi justificada pela recusa de uma enfermeira em tratá-la das dores que sentia com o argumento de que trocara de área havia pouco tempo e que, portanto, seu corpo estava em fase de adaptação. “Se eu mudo de área toda hora, nunca vou poder ser tratada?”, indagou ela.

Inesperada, a pergunta resultou em um mea-culpa do gerente-geral, que admitiu que as enfermeiras não estavam atuando de forma adequada e foram substituídas. Aos jornalistas, Mulgrew buscou destacar a evolução. “Se fosse há dois anos, eu não traria vocês aqui”, disse, sugerindo que as notas atribuídas pelos funcionários à empresa – então em plena fase de reestruturação, com mudanças em todas as áreas – eram mais baixas. Neste ano, queixas como a das mexicanas seriam pontuais. De fato, a maioria dos trabalhadores que participou da pesquisa deu notas elevadas.

Os executivos da JBS também fizeram questão de ressaltar, por mais de uma vez, o nível dos salários pagos. “Pagamos o dobro do salário mínimo”, afirmou Dooley. No frigorífico da JBS em Ottumwa, com turno de trabalho de dez horas, o salário é de US$ 16,50 por hora. No Iowa, o salário mínimo em vigor é de US$ 7,25 por hora. Nessa toada, o mantra fixado pela JBS na entrada da sala de abate se impõe. “O dinheiro é a carne”.




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